quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A Preguiça

Segundo Plutarco, o grande título de Licurgo “o mais sábio dos homens” para a admiração da posteridade, era ter concedido a ociosidade aos cidadãos da República, proibindo-os de exercer quaisquer mister (atividade).”
Agora falo da Preguiça como princípio genealógico e origem do preconceito ideológico e político.
Se até hoje estivéssemos no paraíso nada faríamos, sendo privilegiados pela fartura, ainda que omissos. Mas fomos expulsos (Adão e Eva) após ter comido o fruto proibido da árvore da ciência do "conhecimento do bem e do mal" e hoje ficamos privados da perfeição e da perspectiva de vida infindável. Contudo permanecemos cultivando a preguiça original, para uns e para outros enquanto moral do bem e do mal, respectivamente. Seria este o princípio genealógico primordial que permite nossa eterna preguiça?! (sem adentrar no âmbito religioso)
Para responder, primeiramente, seria necessário conhecer a alma humana, mas não temos essa capacidade senão apenas lançarmos as primeiras ideias filosóficas escritas.
Platão dividiu a alma do homem numa parte melhor e outra pior. Disse que muitos pensam em sempre ser “senhor de si”, porém podem se constituírem em “escravo de si.”
Mas esta expressão parece-me significar que na alma do homem há como que uma parte melhor e outra pior; quando a melhor por natureza domina a pior, chama-se isso “senhor de si”, o que é um elogio, sem dúvida; porém, quando devido a uma má educação ou companhia, a parte melhor, sendo menor, é dominada pela superabundância da pior, a tal expressão censura o fato como coisa vergonhosa, e chama ao homem que se encontra nessa situação escravo de si mesmo e libertino.”(Platão, pag 125).
A preguiça num contexto geral é contrária à virtude tradicional. No campo das ideologias atua como divisora e matriz do preconceito ideológico (esquerda e direita), como adiante abordamos, enquanto entrave das causas ou tarefas da produção das substâncias apropriáveis e ou consumíveis, pois, as coisas se fazem pelas ideias em prática, pelo trabalho ou até mesmo pela apropriação ilícita dos bens susceptíveis de posse e satisfação dos desejos ou da sobrevivência.
No entanto, o combate a preguiça se inicia na escola, na profissão, no aprendizado desbastando a pedra bruta pelo trabalho do mais simples ao mais nobre ofício, mas sempre pelo rigor da luta. Portanto, a preguiça também divide o bem e o mal. Falo da preguiça orgânica e da intelectual.
A Ideologia e a Localização da Preguiça
Certo! A preguiça faz surgir esse grande preconceito ideológico do bem e mal. No socialismo todos querem dividir as substancias/coisas sem distinção de causas e tarefas que originaram a disposição desses bens apropriáveis às pessoas, ou seja, incriminam a apropriação individual.
Mas as causas dos bens/coisas e substancias foram em regra a natureza, as ideias, o trabalho/tarefas, as conquistadas (muitas ilícitas ou sem mérito) pela apropriação dos bens antes mencionados ou mesmo pela herança por alguns dita como injusta. Ainda que não sejam originalmente os titulares desses bens, os socialista/comunistas reclamam parcela ou o total deles como se sempre fossem derivados de uma causa da natureza ou da apropriação ilícita e/ou injusta, devendo com todos ser partilhados.
No capitalismo todos querem viver negando o ócio, cultivando o livre-arbítrio. 
Então, qual o caminho? Talvez possa ser a ciência e as tecnologias como termo unificador e emancipador desse dilema, disponibilizando os meios de subsistências facilitando a “ociosidade preguiçosa” que designo como aquela em que poderei aproveitar meu o tempo de modo mais prazeroso, mas até então desprovido de fundamentos causais socialmente aceitáveis.
O combate a preguiça seja intelectual ou orgânica enquanto freio das ações e idéias, encontra óbices. Os comunistas argumentam: Não necessito aprender nada; ou o proletário é embrutecido pelo dogma trabalho. Mas a preguiça está no psicológico enquanto ânimo e não na purificação genética de uns e de outros, nem no social, ou seja, está no indivíduo e é sempre no individuo que ela se instaura. Em estando no individuo, não é justo que a sociedade seja complacente com ela. Portanto, o Estado/Governo como Ente não pode estar omisso em relação a sua fixação no Ser, seja na forma natural do ânimo ou artificializada por grupos municiados de doutrinas que cultuam a preguiça.
A religião combate a preguiça indicando sacrifícios para penitenciar o Ser do rol de pecados, muitos destes, direta ou indiretamente, com ela relacionada. Contudo, além da família, é na escola em que ela deve ser dissipada. A preguiça intelectual é um dever de o Estado combater. Não desconhecemos que também é uma questão de método de ensino e conhecimento, uma vez que determinados indivíduos se adaptam melhor numa dada maneira de aprender para dela se emancipar.
O combate à preguiça orgânica é uma questão médica e até complexa, mas na grande maioria este mal se resolve através de exercícios ao corpo.
Com a diminuição da preguiça, todos podem evoluir se beneficiando das técnicas e dos bens produzidos, afastando as teorias que mais atingem o inconsciente coletivo para conseguir adesão dos modelos doutrinários que veladamente adotam a preguiça, venerando a partilha indiscriminada das coisas (sem distinção de causas que originaram a disposição pelas pessoas sobre esses bens/substâncias). Outros que adotam o combate à preguiça para justificar e fixar o livre arbítrio como salvação, crendo que a preguiça é uma predisposição inata ou imanente para distinguir pessoas. Portanto, estas também perderiam o discurso na mesma proporção. A preguiça não mais seria tratada como escrúpulo moral “a priori”, mas uma ociosidade aceitável após a partilha de esforços de tarefas físicas e intelectuais. Assim, “qual é definitivamente a origem de nossa ideia do bem e do mal? (pag. 17 N).
- Maquiando a Preguiça
Claro, com a manutenção da preguiça e dos preconceitos fixados em doutrinas opostas, digo, das teorias políticas na forma binária que simplificam e polarizam as divergências de esquerda e direita, fica adredemente mais aprazível fazer um juízo de valor maquiando a preguiça para conseguir seguidores. Adotam categorias em especial “estar-em-uma-posição” como o dualismo “privação e posse”, colocando este dilema em oposição esmagadoramente no campo das sensibilidades e não das ideias. Classificam os seres de egoístas e não-egoístas, inculcando até o ódio. Trata-se de uma construção silenciosa, aos poucos. E todos classificam os ricos, os poderosos os que mandam. Com isso ocorre a purificação da preguiça em doutrinas de esquerda e de direita. Seja na forma ingênua dos que passam a acreditar, seja pelos precursores conscientes e terapeutas em nome dessas doutrinas ditas como da causa social defensável pelos doutrinados. Desse modo procuram cultivar a preguiça, pois os demais padrões de conduta que indicam a evolução ou mesmo o progresso causam o sofrimento inicial pelo esforço físico ou intelectual. Então, todos procuram se tornar “preguiçosos e refinados” através de uma doutrina maquiadamente mais adequada na posição que se encontra, pois interessa “estar-em-uma-posição”. Prometem a equidade da divisão, mas tem medo da justiça legal e por isso enfraquecem uma das funções essenciais à justiça, pois preferem utilizar a “equidade”, uma vez que a equidade tem matriz mais proeminente no direito natural. Assim, propondo a divisão do pão (Schumpeter) , não importando se o total produzido na nação supre a todos, pois se faltar na partilha o discurso se faz contra o opositor, atribuindo-o o mal, sendo este quem danificou e não atingiu um todo plausível da ora divisão digna. Alguém poderia me indagar se não estaria deixando de lado “a inveja como origem do preconceito”, porém, penso que não, uma vez que a inveja tem menor intensidade do que o ódio. O ódio cultivado em demasia, enquanto última instância doutrinária, pode se inclinar na tomada de Poder e do Estado pela luta armada.
- Como combater a Preguiça
O combate da preguiça pode ser mitigado pela ciência e tecnologias e esse deve ser a finalidade do processo político e ideológico.
A preguiça como princípio genealógico e origem do preconceito ideológico e político, deve ser combatida com a mais simples e eficaz das armas, ou seja, uma escola que possa “oferecer ciência ao povo”. Somente assim “a cidade é maior que o indivíduo? sim. (...).., observando a semelhança com o maior na forma do menor” (Platão 55). Não podemos admitir que tudo se plebeíze, nobreíze, burgueíze e se prodigalize em nome desse suposto bem e mal. No sentido de querer que os cidadãos da república ideal platônica vivam na maior ociosidade, tirando tempo livre para os amigos e para a política. Alguns políticos, sem se importar com a educação e com as profissões que sustentam a cidade, equivocadamente querem ter o título de Licurgo, que antes mencionei, concedendo a ociosidade aos seus tutelados e doutrinados.

Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

Um comentário:

  1. Uma dura critica sobre a ociosidade concedida e não conquistada, com a narrativa de Plutarco, sobre o grande título de Licurgo

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