Segundo Plutarco, o grande título de Licurgo “o mais sábio dos homens” para a admiração da
posteridade, era ter concedido a ociosidade aos cidadãos da República,
proibindo-os de exercer quaisquer mister (atividade).”
Agora falo da Preguiça como princípio
genealógico e origem do preconceito ideológico e político.
Se até hoje estivéssemos no paraíso nada
faríamos, sendo privilegiados pela fartura, ainda que omissos. Mas fomos
expulsos (Adão e Eva) após ter comido o fruto proibido da árvore da ciência do
"conhecimento do bem e do mal" e hoje ficamos privados da perfeição e
da perspectiva de vida infindável. Contudo permanecemos cultivando a preguiça
original, para uns e para outros enquanto moral do bem e do mal,
respectivamente. Seria este o princípio genealógico primordial que permite
nossa eterna preguiça?! (sem adentrar no âmbito religioso)
Para responder, primeiramente, seria necessário
conhecer a alma humana, mas não temos essa capacidade senão apenas lançarmos as
primeiras ideias filosóficas escritas.
Platão dividiu a alma do homem numa parte melhor e outra pior. Disse que muitos pensam em sempre ser “senhor de si”, porém podem se constituírem em “escravo de si.”
“Mas esta expressão parece-me significar que na alma do homem há como que uma parte melhor e outra pior; quando a melhor por natureza domina a pior, chama-se isso “senhor de si”, o que é um elogio, sem dúvida; porém, quando devido a uma má educação ou companhia, a parte melhor, sendo menor, é dominada pela superabundância da pior, a tal expressão censura o fato como coisa vergonhosa, e chama ao homem que se encontra nessa situação escravo de si mesmo e libertino.”(Platão, pag 125).
Platão dividiu a alma do homem numa parte melhor e outra pior. Disse que muitos pensam em sempre ser “senhor de si”, porém podem se constituírem em “escravo de si.”
“Mas esta expressão parece-me significar que na alma do homem há como que uma parte melhor e outra pior; quando a melhor por natureza domina a pior, chama-se isso “senhor de si”, o que é um elogio, sem dúvida; porém, quando devido a uma má educação ou companhia, a parte melhor, sendo menor, é dominada pela superabundância da pior, a tal expressão censura o fato como coisa vergonhosa, e chama ao homem que se encontra nessa situação escravo de si mesmo e libertino.”(Platão, pag 125).
A preguiça num contexto geral é contrária à
virtude tradicional. No campo das ideologias atua como divisora e matriz do
preconceito ideológico (esquerda e direita), como adiante abordamos, enquanto
entrave das causas ou tarefas da produção das substâncias apropriáveis e ou
consumíveis, pois, as coisas se fazem pelas ideias em prática, pelo trabalho ou
até mesmo pela apropriação ilícita dos bens susceptíveis de posse e satisfação
dos desejos ou da sobrevivência.
No entanto, o combate a preguiça se inicia na
escola, na profissão, no aprendizado desbastando a pedra bruta pelo trabalho do
mais simples ao mais nobre ofício, mas sempre pelo rigor da luta. Portanto, a
preguiça também divide o bem e o mal. Falo da preguiça orgânica e da
intelectual.
A Ideologia e a Localização da Preguiça
Certo! A preguiça faz surgir esse grande
preconceito ideológico do bem e mal. No socialismo todos querem dividir as
substancias/coisas sem distinção de causas e tarefas que originaram a
disposição desses bens apropriáveis às pessoas, ou seja, incriminam a
apropriação individual.
Mas as causas dos bens/coisas e substancias foram
em regra a natureza, as ideias, o trabalho/tarefas, as conquistadas (muitas
ilícitas ou sem mérito) pela apropriação dos bens antes mencionados ou mesmo
pela herança por alguns dita como injusta. Ainda que não sejam originalmente os
titulares desses bens, os socialista/comunistas reclamam parcela ou o total
deles como se sempre fossem derivados de uma causa da natureza ou da
apropriação ilícita e/ou injusta, devendo com todos ser partilhados.
No capitalismo todos querem viver negando o
ócio, cultivando o livre-arbítrio.
Então, qual o caminho? Talvez possa ser a ciência e as tecnologias como termo unificador e emancipador desse dilema, disponibilizando os meios de subsistências facilitando a “ociosidade preguiçosa” que designo como aquela em que poderei aproveitar meu o tempo de modo mais prazeroso, mas até então desprovido de fundamentos causais socialmente aceitáveis.
Então, qual o caminho? Talvez possa ser a ciência e as tecnologias como termo unificador e emancipador desse dilema, disponibilizando os meios de subsistências facilitando a “ociosidade preguiçosa” que designo como aquela em que poderei aproveitar meu o tempo de modo mais prazeroso, mas até então desprovido de fundamentos causais socialmente aceitáveis.
O combate a preguiça seja intelectual ou
orgânica enquanto freio das ações e idéias, encontra óbices. Os comunistas
argumentam: Não necessito aprender nada; ou o proletário é embrutecido pelo
dogma trabalho. Mas a preguiça está no psicológico enquanto ânimo e não na
purificação genética de uns e de outros, nem no social, ou seja, está no
indivíduo e é sempre no individuo que ela se instaura. Em estando no individuo,
não é justo que a sociedade seja complacente com ela. Portanto, o
Estado/Governo como Ente não pode estar omisso em relação a sua fixação no Ser,
seja na forma natural do ânimo ou artificializada por grupos municiados de
doutrinas que cultuam a preguiça.
A religião combate a preguiça indicando sacrifícios para penitenciar o Ser do rol de pecados, muitos destes, direta ou indiretamente, com ela relacionada. Contudo, além da família, é na escola em que ela deve ser dissipada. A preguiça intelectual é um dever de o Estado combater. Não desconhecemos que também é uma questão de método de ensino e conhecimento, uma vez que determinados indivíduos se adaptam melhor numa dada maneira de aprender para dela se emancipar.
A religião combate a preguiça indicando sacrifícios para penitenciar o Ser do rol de pecados, muitos destes, direta ou indiretamente, com ela relacionada. Contudo, além da família, é na escola em que ela deve ser dissipada. A preguiça intelectual é um dever de o Estado combater. Não desconhecemos que também é uma questão de método de ensino e conhecimento, uma vez que determinados indivíduos se adaptam melhor numa dada maneira de aprender para dela se emancipar.
O combate à preguiça orgânica é uma questão
médica e até complexa, mas na grande maioria este mal se resolve através de
exercícios ao corpo.
Com a diminuição da preguiça, todos podem
evoluir se beneficiando das técnicas e dos bens produzidos, afastando as
teorias que mais atingem o inconsciente coletivo para conseguir adesão dos
modelos doutrinários que veladamente adotam a preguiça, venerando a partilha
indiscriminada das coisas (sem distinção de causas que originaram a disposição pelas
pessoas sobre esses bens/substâncias). Outros que adotam o combate à preguiça
para justificar e fixar o livre arbítrio como salvação, crendo que a preguiça é
uma predisposição inata ou imanente para distinguir pessoas. Portanto, estas
também perderiam o discurso na mesma proporção. A preguiça não mais seria
tratada como escrúpulo moral “a priori”, mas uma ociosidade aceitável após a
partilha de esforços de tarefas físicas e intelectuais. Assim, “qual é
definitivamente a origem de nossa ideia do bem e do mal? (pag. 17 N).
- Maquiando a Preguiça
Claro, com a manutenção da preguiça e dos
preconceitos fixados em doutrinas opostas, digo, das teorias políticas na forma
binária que simplificam e polarizam as divergências de esquerda e direita, fica
adredemente mais aprazível fazer um juízo de valor maquiando a preguiça para
conseguir seguidores. Adotam categorias em especial “estar-em-uma-posição” como
o dualismo “privação e posse”, colocando este dilema em oposição
esmagadoramente no campo das sensibilidades e não das ideias. Classificam os
seres de egoístas e não-egoístas, inculcando até o ódio. Trata-se de uma
construção silenciosa, aos poucos. E todos classificam os ricos, os poderosos
os que mandam. Com isso ocorre a purificação da preguiça em doutrinas de
esquerda e de direita. Seja na forma ingênua dos que passam a acreditar, seja
pelos precursores conscientes e terapeutas em nome dessas doutrinas ditas como
da causa social defensável pelos doutrinados. Desse modo procuram cultivar a
preguiça, pois os demais padrões de conduta que indicam a evolução ou mesmo o
progresso causam o sofrimento inicial pelo esforço físico ou intelectual.
Então, todos procuram se tornar “preguiçosos
e refinados” através de uma doutrina maquiadamente mais adequada na posição
que se encontra, pois interessa “estar-em-uma-posição”. Prometem a equidade da
divisão, mas tem medo da justiça legal e por isso enfraquecem uma das funções
essenciais à justiça, pois preferem utilizar a “equidade”, uma vez que a
equidade tem matriz mais proeminente no direito natural. Assim, propondo a
divisão do pão (Schumpeter) , não importando se o total produzido na nação
supre a todos, pois se faltar na partilha o discurso se faz contra o opositor,
atribuindo-o o mal, sendo este quem danificou e não atingiu um todo plausível
da ora divisão digna. Alguém poderia me indagar se não estaria deixando de lado
“a inveja como origem do preconceito”, porém, penso que não, uma vez que a
inveja tem menor intensidade do que o ódio. O ódio cultivado em demasia,
enquanto última instância doutrinária, pode se inclinar na tomada de Poder e do
Estado pela luta armada.
- Como combater a Preguiça
O combate da preguiça pode ser mitigado pela
ciência e tecnologias e esse deve ser a finalidade do processo político e
ideológico.
A preguiça como princípio genealógico e origem
do preconceito ideológico e político, deve ser combatida com a mais simples e
eficaz das armas, ou seja, uma escola que possa “oferecer ciência ao povo”.
Somente assim “a cidade é maior que o indivíduo? sim. (...).., observando a
semelhança com o maior na forma do menor” (Platão 55). Não podemos admitir que
tudo se plebeíze, nobreíze, burgueíze e se prodigalize em nome desse suposto
bem e mal. No sentido de querer que os cidadãos da república ideal platônica
vivam na maior ociosidade, tirando tempo livre para os amigos e para a
política. Alguns políticos, sem se importar com a educação e com as profissões
que sustentam a cidade, equivocadamente querem ter o título de Licurgo, que
antes mencionei, concedendo a ociosidade aos seus tutelados e doutrinados.
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira
Uma dura critica sobre a ociosidade concedida e não conquistada, com a narrativa de Plutarco, sobre o grande título de Licurgo
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