Não
entendo a linguagem/discurso de muitas profissões. Resultam em dificuldades na
prática da atividade profissional, especialmente quando a tarefa desempenhada
vier a exigir pluralidade de intervenções técnicas científicas, mediante
atuação de saberes convergentes e sistematizado, necessários na obtenção de
resultados.
No tocante a história do saber, até então a
humanidade teve um sistema de exclusão no que tange ao deslocamento da escolha
da verdade bem definida, desde a época sofistica, após com Sócrates, Platão,
Aristóteles..., onde se ordenou o que seria discurso verdadeiro e falso. Depois
de um grande obscurantismo, surgiu do século XVI para o XVII, primeiro na
Inglaterra, uma ciência do olhar, da observação, da verificação, uma filosofia
natural, o empirismo, que fez surgir novas estruturas políticas, religiosa..., como nova forma de saber. Já no século XIX o aparecimento da ideologia
positivista, com pretensão científica no discurso médico, psiquiátrico, sociológico, assim como os discursos prescritivos no sistema penal. Como exemplo, a medicina com intensa
ritualização num jogo de limitações, exclusões e de interdições de linguagem
especialmente ao mundo exterior.
Foucault
afirmou: “Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou de
modificar a apropriação dos discursos, com saberes e os poderes que eles trazem
consigo”.
De
um modo geral, o discurso que atua no interior dos sistemas complexos é
constituído por um grupo de restrições, o ritual, que define a qualificação que
devem possuir os indivíduos que falam, no jogo de um diálogo, da interrogação,
da recitação, e que devem ocupar determinada posição e também formular algum
tipo de enunciado. Os discursos religiosos, jurídicos/judiciários,
terapêuticos, políticos..., não podem ser dissociados da prática ritual
construída para os sujeitos que falam, com propriedades singulares e papéis
preestabelecidos.
Na
verdade as séries discursivas derivam de uma série de acontecimentos e
fenômenos de que estão ligados com esse jogo de noções.
Porém
o acontecimento não é da ordem dos corpos (só matéria), mas também não somente
o imaterial (ideias), pois, acidentes ou variáveis podem interceder. Assim, nem
substância nem acidente, todavia, é sempre no âmbito da materialidade que ele
se efetiva. Portanto, não é o ato nem a propriedade de um corpo simples ou
complexo que trará a eficácia do resultado, mas um plexo de atuações e
intervenções que devem interagir. Nessa linha, a liberdade do saber ganharia um
paradoxo: o de um materialismo do incorporal (matéria e idéias associadas),
ante um saber sistematizado e homogêneo!
Contudo,
os acontecimentos discursivos devem ser tratados como séries homogêneas, mas
descontínuas, pois certamente há cesuras que rompem o instante e dispersam o sujeito
numa pluralidade de posições e funções possíveis, ficando os sujeitos da
relação dispersos. Imaginamos numa série
regular e distinta, qual seria a conexão? Poderíamos colocar em série, ainda
que distintas, a medicina com a engenharia sanitária. Essa conexão formaria uma
sistematicidade descontínua, uma vez que não excluiria a ritualização da
palavra em cada uma dessas corporações de saberes nem criaria interdições,
supressões, ou fronteiras e limites de modo que a desordem do discurso entre as
linhas de saberes fossem organizadas, restituindo ao discurso seu caráter de
acontecimento, afastando ou suspendendo assim a soberania do significante
isolado. Disso, poderia haver em determinadas instâncias, portanto, a partilha
do discurso sem a presença de enunciados prescritivos e inassimiláveis,
produzindo uma homogeneidade, ainda que transitória. Na verdade a doutrina
liga/conecta os indivíduos a certos tipos de enunciação e lhes proíbem,
conseqüentemente, todos os outros. No entanto, em certos tipos de enunciação, a
propositiva, serve para ligar indivíduos entre si e diferenciá-los de todos os
outros. Também percebemos uma dupla sujeição: dos sujeitos que falam aos
discursos e dos discursos ao grupo.
Revemos
acima, o que disse Foucault sobre a imposição feita pelo sistema de ensino que
estabelece uma forma política de manter ou modificar a apropriação dos
discursos, com os saberes e poderes que eles trazem. Nas instituições e
profissões há uma ritualização de ingresso, permanência e saída, com
apropriação de discursos por certas categorias de sujeitos. Adotam como lei uma
racionalidade imanente, propondo uma verdade ideal. Estabelece linguagem sobre
a linguagem - uma metalinguagem (mas aqui não adentrarei na semiótica). Assim,
seria oportuno repensar esse relacionamento ritualístico dos ofícios e seus
discursos, com instâncias propositivas de inter-relação homogenias ainda que de transição. Talvez agora fosse a vez de uma teoria que faz pensar as relações do
acaso e do pensamento. Portanto, propor um projeto crítico para análise das
instâncias de controle do discurso, analisando o processo de rarefação como
também de reagrupamento e de unificação dos discursos. Contudo, deve sempre
levar em conta os limites que interferem nas formações reais, seja de
perspectiva como de delimitação, devem também ser levadas em conta conforme as
pluralidades de séries nas quais interfiram nos interditos e que sejam
diferentes para cada uma dessas séries de acontecimentos sobre os quais se
fixam rituais. Repito: qual a solução?
Seria um Platonismo/idealismo substancial!? Um materialismo do
incorporal?! Para que haja um novo olhar que possibilite as ideias e
matéria/substância mais homogêneas entre os sujeitos ativo e passivo dos
discursos, enquanto resultado da reelaboração das disciplinas e seus discursos,
orientando o sistema de educação e seu papel de formador. Sem a existência de
rupturas significativas ou cesuras dos respectivos rituais nas (e entre)
profissões e usuários desses agentes de saberes. (bobagem..., isso já vem sendo
feito, às vezes mais rápido ou na forma mais lenta, e é uma eterna
construção!).
Milton
Luiz Gazaniga de Oliveira
Vejo um tema provocador de encantamento. No tocante ao discurso a sua mudança ou deslocamento temporal da verdade na história da humanidade. Procurei demonstrar que a escola produz um sistema de exclusão, formulando um discurso do poder através de ritos disciplinares, e que são propositadamente inassimiláveis, num jogo de limitações semânticas, dificultando a interação com os indivíduos passivos da relação.
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