segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Que hospital queremos?!

A falta de verbas, equipamentos, estrutura inadequada, faz com que os hospitais públicos fiquem num estado de permanência nos antigos costumes.
(como querer que uma coisa mude a si mesmo. É contrário ao princípio da causalidade - neste caso somente a democracia pode ser a causa – o povo exigindo).
Assim, muitos procuram os Hospitais particulares!
O hospital público num país que não cuida das políticas públicas tem uma concepção como a anterior ao século XVIII. Nessa época: uma instituição de assistência aos pobres, de separação e exclusão das doenças que podia se espalhar pela cidade. O Hospital concebido como morredouro, um lugar onde morrer, tendo como função a assistência e transformação espiritual, uma transição entre a vida e a morte para fazer a última obra de caridade. Composto por um pessoal “caritativo”, religioso ou leigo, que faziam obra de caridade. Exercitavam “o dualismo da salvação eterna do pobre e a do pessoal do hospital”. Um lugar onde se praticava o jogo entre a natureza, a doença e o médico este enquanto mero prognosticador, podendo ser um aliado da natureza. Já os particulares também guardavam a semente dessa criação, mas apenas no aspecto individualista onde para os médicos a experiência do hospital público estava excluída da formação ou da sua corporação enquanto “ritual médico”. Bem, nos dias atuais, isso decorre do fato de que no Brasil tanto a medicina das coisas quanto a medicina dos corpos caminham em dissintonia, não cuidam bem da medicina do corpo enquanto força de produção e de bem estar, nem da medicina das coisas enquanto salubridade dos espaços urbanos para elevar o nível de saúde. Os amontoamentos urbanos sem avenidas, o comprometimento da boa circulação da água e do ar (poluição dos motores) esgotos e decomposições, proliferando vetores..., todos sem ou de péssima qualidade, desqualificando a relação entre o organismo e o meio enquanto medicina urbana.
Então, queremos hospitais públicos e a cidade bem administrada e com qualidade:
Criticamos sim, mas sem destruir. Às vezes nos faltam competência comunicativa e também a virtude reflexiva, aquela que exige que a pessoa tome distância de si mesma.
Mas digo com certeza que no Brasil a ciência médica evoluiu e ainda está em evolução. Com a vontade política e do povo, brevemente, o hospital não mais será um lugar de mascaramento da doença e de exclusão onde se rejeitam os doentes, como nos idos séculos em que o médico deveria olhar a evolução da doença e do doente para detectar quando a crise apareceria, no tempo em que o hospital era um verdadeiro lugar da experiência. Doravante, presenciaremos no ambiente hospitalar a função de cura, inserida nos rituais. Viveremos a intervenção médica e a disciplinarização dos espaços hospitalares, especialmente nos hospitais públicos, com pessoal qualificado. Já o curso de desenvolvimento da doença enquanto experiência mudará de espaço: será nos laboratórios, em que a doença vem sendo manipulada e estudada nos tubos de ensaio e não mais nos corpos, como no antigo ambiente hospitalar; O médico, e o corpo técnico, ganhou autonomia dentro do hospital, livrando-se da dependência administrativa e das antigas religiões de antes, sem base teológica e do puro fanatismo da cura sagrada em detrimento da cura científica.
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

Foucault, Michel. Microfisica do poder; organização e tradução de Roberto Machado – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979, pág 99-111.

Um comentário:

  1. Baseado em Foucault, lancei a questão da desatenção hospitalar. Como ele era concebido e o que deve ser agora, um local de cura. Não sendo assim um morredouro ou mero prognosticador da doença para não se espalhar pela cidade, no qual inevitavelmente se fazia caridade. A evolução e autonomia do médico e seus rituais de procedimentos.

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