sábado, 13 de fevereiro de 2016

As férias – Tudo flui de mim. Heráclito

Os Sentidos merecem repouso! Mas meus pensamentos não?!
Lembrando Voltaire[i]: “Os instrumentos que a natureza nos deu não podem ser sempre causas finais em movimento, que tenham efeito infalível. Os olhos, dados para ver, não estão sempre abertos; cada sentido tem seus momentos de repouso.”
Concordo, mas também meus pensamentos deveriam ter férias, pois estão além dos sentidos, e não param de me importunar, mesmo quando em férias!
Então, sairei da rotina, me isolarei numa caverna, estarei no Alasca, na Sibéria, no pólo sul, no deserto, longe dos problemas!
Nada disso..., a conexão é inevitável e o campo do pensamento atinge severamente tudo em mim. As idéias, os arquétipos e a razão, esta enquanto faculdade dos princípios, e moram dentro da mente. Uma forma em que visualizo a matéria, libertando categorias, exigindo até o seu uso transcendental, que seja aplicada fora do campo dos fenômenos. Então para alguns as férias não existe, pois até o amor não tira férias, já que está misturado na alma e nos sentidos.
Então deixarei tudo fluir nas férias, tal como Heráclito, não havendo individualização ou determinação das coisas.
Bem, somente após meu retorno das férias é que voltarei ao mundo sensível e perceptível das definições e das formas, como conceituado em Aristóteles ainda que não permanentes, mas de mudanças entre a potência ao ato, rumo a uma possível perfeição; Ou em Platão que separou o mundo das formas, o inteligível do mundo sensível material. Então, deixarei de lado esta velha discussão entre mutabilidade versus imutabilidade das coisas ou de tudo.
Registro que nem acredito no imobilismo Parmenidiano, pois se assim acreditasse, no meu retorno ao trabalho tudo estaria como antes, até os prazos suspensos sem qualquer continuidade, num imobilismo das coisas, até o vaso de flor estaria com os mesmos botões e meu emprego garantido.
Já sei, farei das férias um momento de fluir e levarei apenas coisas boas e agradáveis (frutas e chocolates!) para fluir na mente. É apenas nesse momento que posso adotar a teoria de  Heráclito, afirmando que tudo é um fluxo,  uma mudança que flui sem forma definida.
Nada mais será permanente em minhas férias! Então assim será minhas férias, um mundo onde  tudo flui de mim!
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira.




[i] Dicionário Filosófico. Voltaire. SP, Editora Martin Claret, 2006. Pag 238-39.


2 comentários:

  1. Ops, Vazo não, "vaso" de flor! esse corretor não percebeu!!Kkkk

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  2. Parece simples dizer isso! No entanto, imagino ser a melhor reflexão que se enquadra ao descanso de férias, a filosofia do fluído de Heráclito. O dinâmico, pois “em pouco tempo elas se dissolvem”. “não havendo individualização ou determinação das coisas.” Um contraponto à filosofia Parmenidiana do imobilismo.
    Vejamos, a água tende a correr naturalmente para baixo. Em contraposição, o fogo para cima. Nada permanece. Não tendo forma, pois, fluída, líquida, ou seja, adaptação... Portanto, o momento das férias deve ser assim mesmo: fluente, sem forma, como o fogo ou a água, limpando as aflições. Somos e não somos; descemos e não descemos, evaporamos, adquirimos e contornamos formas no decorrer do curso...

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