segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Sobre a “Imaginação”.

Saúdo os artistas: músicos, pintores, compositores, poetas, escritores..., que fazem o bom uso da imaginação ativa, compondo ou executando obras (áudio, visuais, instrumentos)...
Em três textos anteriores (I, II e III) falei sobre o pensamento: “Como pensa o Democrata? Difere do autocrata, teocrata, aristocrata, totalista/ditador…?. Ali procurei sem muito sucesso entender o pensamento e sua formação. Cheguei a uma pequena conclusão de que “O caminho natural do conhecer vai: do sentido, ao entendimento até a razão, esta enquanto abstração mais elevada, possuindo uma faculdade lógica e outra transcendental.”
No entanto, agora não pude fugir em saber sobre a imaginação, uma vez que nos últimos dias pude vivenciar bons sonhos. Logicamente, também tive alguns pesadelos, mas neste caso certamente tenha sido fruto da gula noturna!
Sem muito esforço consultei o dicionário filosófico de Voltaire o qual me aliviou de uma pesquisa mais esforçada.
Em suma a Imaginação “é o poder que tem todo o ser sensível para representar coisas sensíveis no seu cérebro, é dependente da memória.” (p. 298).
Portanto, percebemos as coisas pelos sentidos e a memória as retém e a imaginação as compõe. Dá para dizer que a imaginação é filha da memória.
Nos textos anteriores fiz a separação da razão e aqui também excluo a razão das três faculdades que possuímos, ou seja, a percepção, memória e imaginação. Poderíamos até dizer que elas são frutos da natureza e não nossa (da minha razão).
Voltaire crê que a imaginação seja a única faculdade que dispomos para compor idéias, mesmo as mais metafísicas, ou seja, um dom de Deus. Por exemplo, compomos as idéias gerais de verdade e mentira, as quais surgem de alguns fatos que sentimos e misturamos ou compomos na nossa imaginação. Então todos os sentidos (visão, tato, paladar, audição, olfato) contribuem para fornecer idéias à imaginação. 
Podemos dividir a imaginação em Ativa e Passiva. Nos humanos a imaginação ativa se torna capaz de coisas belas e até extraordinárias.

- Imaginação passiva.

Podemos dizer que possuímos uma imaginação passiva, que consiste em reter uma simples impressão dos objetos; Aqui me faz relembrar as audiências nos processos judiciais quando no interrogatório pedimos que a testemunha apenas se limite em relatar os fatos presenciados. Portanto, neste caso se faz o uso da imaginação passiva, ou seja, faz mais uso da memória e é comum nos homens e também aos animais. (por isso até o cão e o caçador podem sonhar com a cassada, aquele correndo atrás e este abatendo os cervos... Este (o caçador) grita e aquele (cão)  ladra nos sonhos, já que neste caso o sonho é uma imagem fiel captado da memória, mas distorcida). Claro, essa imagem passiva se compõe de maneira primária, sem o auxilio da reflexão, não se constituindo em uma ação do entendimento e sim um engano da memória. A imaginação passiva independe da ajuda de nossa vontade, seja no sono, seja na vigília. Nesse ponto fiquei bem aliviado quando tenho um sonho ruim agora sei que não decorreu da minha vontade, pois apenas pintamos a partir dos olhos o que já vimos, ou do tato, olfato, paladar... até de um filme que nem lembramos direito, acrescentando ou diminuindo algo, e então não sou mais senhor da imaginação (do sonho)! E agora para meu espanto estou surpreso do seu pequeno poder que a imaginação passiva possui (que pena para meus bons sonhos!).

Portanto, independentemente da reflexão essa faculdade passiva pode ser fonte das paixões e erros, quando nela acreditamos sem a reflexão!

- A imaginação Ativa

Esta é aquela que une a reflexão e a combinação à memória, compõe e modifica. Vejamos então que na imaginação ativa não paramos apenas na composição, mas a imaginação é modificada pela reflexão.
Portanto, cria e não apenas produz idéias, mas também modifica idéias. Mas o que me causa o bom espanto centra-se no fato de que a imaginação ativa parece também independente de nós tal como a passiva, pois nota-se que provém de um dom particular! Vem da natureza, uma imaginação inventiva nas artes, no ordenamento de um quadro, num poema! Então os que detêm a imaginação, servem-se da memória como instrumento com que fazem suas obras.
 Mas existe a segunda parte da imaginação ativa, ou seja, dos detalhes, mas não adentrarei profundamente. Sei que o vinho pode provocar essa imaginação, mas a embriaguez aniquila! Um pouco de licor pode impedir a feitura de um cálculo, pois mesmo ingerido em pequena quantidade afetará a parte lógica da razão, mas pode produzir idéias brilhantes para uns ou humilhantes para outros, pois também adentrará na parte transcendental dessa mesma razão!
Então resta quase confirmado que no discurso se emprega menos imaginação do que na poesia, uma vez que o discurso segue certas idéias conhecidas. O orador fala a língua de todo mundo já o poeta tem a ficção como essência da obra. Então para o poeta/escritor/artista/musico... a imaginação é a essência de sua arte e para o orador apenas um acessório.
 
A memória bem nutrida e exercitada é a fonte da imaginação, mas quando sobrecarregada faz com que a segunda pereça. Portanto, cuide bem de sua memória, não a enche com coisas inúteis ou espinhosas nem somente com negócios, pois pode deixá-la estéril. ... “porquanto a imaginação ativa precisa sempre de juízo, ao passo que a outra, a imaginação passiva, os sonhos, por exemplo, independe do juízo.” 
Milton Luiz Gazaniga de oliveira

- Dicionário Filosófico. Voltaire, texto integral. Martin Claret, 2008.

Um comentário:

  1. Consultando Voltaire, efetuei a distinção entre imaginação ativa e passiva. Percebemos as coisas pelos sentidos e a memória as retém e a imaginação as compõe. A Imaginação “é o poder que tem todo o ser sensível para representar coisas sensíveis no seu cérebro, é dependente da memória.” (p. 298).
    “porquanto a imaginação ativa precisa sempre de juízo (os artistas: músicos, pintores, compositores, poetas...), ao passo que a outra, a imaginação passiva, os sonhos, por exemplo, independe do juízo.” Por isso ao sonho não pode ser creditado verdade. (exemplo do texto, o cão e o caçador).

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