quinta-feira, 16 de junho de 2016

Traição intelectual da mecânica social.

A história descreve inúmeras passagens em que fomos traídos pelos dirigentes intelectuais do gênero humano. Mas sempre recaímos na mesma infância. Sim, porque os jovens inexoravelmente passam pela infância e as carrega por longos dias. E os contos encantam as crianças e até pessoas de outras fases, menos os velhos!
O surgimento das fases começa com movimentos reacionários, tentando derrubar a civilização, porém, retornando ao tribalismo uma vez que dividem a sociedade civilizada em tribos: das espécies, dos gêneros, das minorias, dos diferentes... No entanto, aduzo que a tribo sempre foi adepta a prática totalitária, pois dependente da obediência incondicional a um chefe! Depois começamos uma nova luta contra o totalitarismo!! Retomam as profecias históricas “do todo”, sustentado em que tudo é movimento e que as partes ou coisas são vulneráveis ou perecíveis pelo fluxo e movimento. Já o todo permanece na mesma forma, pois há sempre uma estabilidade no todo e mudanças nas partes, ou pelo menos um eterno retorno. Assim, os integrantes das tribos andam em marcha com bandeiras e instrumentos em mão, seguindo rituais determinado pela idéia da tribo. Para iludir e encantar adeptos se dizem a favor de uma sociedade aberta, nos moldes de Péricles de Atenas: “Embora somente poucos possam dar origem a uma política, somos todos capazes de julgá-la”. Contudo, as idéias que defendem derivam das regras platônicas, pois necessitam de chefes de tais tribos criadas e acabam num inconsciente coletivo contra a sociedade aberta, pois o eu e aqueles (os outros) devem seguir ao meu chefe, da minha tribo. Portanto, contra a sociedade aberta, pois, defende uma sociedade unitária, tal como Platão: “O maior de todos os princípios é que ninguém, seja homem ou mulher, deve carecer de um chefe. Nem deve a mente de qualquer pessoa ser habituada a permitir-lhe fazer ainda que a menor coisa por sua própria iniciativa, nem por zelo, nem mesmo por prazer. Na guerra como em meio à paz, porém, deve ela dirigir a vista para seu chefe e segui-lo fielmente. E mesmo nas mais ínfimas questões devem manter-se em submissão a essa chefia. Por exemplo, deve levantar-se, ou mover-se, ou lavar-se, ou tomar refeições... apenas se lhe for ordenado que faça. Numa palavra, deve ensinar sua alma, por hábito prolongado, a nunca sonhar em agir independentemente e a tornar-se totalmente incapaz disso.”
Ora, seguir um líder..., é não tomar uma atitude racionalista, mas histórica em que o todo está presente, já que uma atitude histórica por constituir o todo, ultrapassa a força da razão, e assim as filosofias sociais sustentam a revolta contra a civilização em que as partes individuais ou pequenos grupos preponderam. Adotam uma filosofia platônica, pois as coisas ordinárias (materiais) como estão postas está fadada a cair pela mudança, ou seja, ao fluxo das coisas e, portanto, sujeitas a desvanecer, tal como Heráclito dizia. E assim, apenas as idéias é que permanecerão, uma vez que a forma ou idéia passa a ser uma coisa perfeita e não perece. Portanto, defendem uma idéia coletiva, ou seja, uma mecânica social de todas as coisas, pois o todo não perece. Ao contrário, o racionalismo aponta ou tem incidência sobre as coisas perecíveis.
Quando eu falo que o todo não perece, já me referi em outros textos sobre a indestrutibilidade. Veja: o sol nasce e se põe todos os dias, tal como os solstícios tendem a eternidade, já o homem racional chega a um determinado dia em que perece, mas a espécie humana, por exemplo, enquanto um todo, tende a ser imperecível.
Mas aí reside o antagonismo, uma vez que também passam a dividir os seguimentos maiores em partes para atingir o todo, mas esquecem que as partes podem rapidamente  se desintegrar do todo em face de novas e surpreendentes contingências, e voltam a cair na armadilha das coisas perecíveis.
Sim, pois dividem a sociedade em tribos e as tribos são partes e todas as partes estão em contato com o tempo e espaço e se corrompem ante as coisas sensíveis.
Então, chamo de traição intelectual o fato de começarem pela indução das partes para chagar ao todo. Destarte, inexoravelmente divide o todo (até então composto de uma sociedade dita individualista e civilizada incorretamente), porém, em partes. Mas as partes são perecíveis com o tempo e espaço, uma vez que o tempo muda de modo instantâneo. Veja que até as partes antagônicas podem se combinar, mudando a própria forma. Assim, o ideal se distancia ainda mais da combinação dada pelo protótipo/arquétipo do todo, porque o todo de agora mudou a própria história de ontem, onde apenas o racionalismo pode resistir diante das partes ainda que corruptíveis, pois as partes corruptíveis se combinam mais fácil e rapidamente até para o bem do todo e de todos.
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

Obs. “A mecânica social da qual me refiro, enfoca ser mais importante a consciência coletiva, portanto, superior à consciência individual, destarte, suprimindo a personalidade do indivíduo. Isto é, o indivíduo é uma coisa ou parte da sociedade e a consciência individual é uma simples dependência do tipo coletivo e todos os indivíduos são parecidos de certo modo iguais. Disso resulta na necessidade de um conjunto de crenças e sentimentos comuns a todos os membros mais ou menos organizados.”

Um comentário:

  1. O Todo
    A expressão “O Todo” que abusivamente adoto, tornou-se meu dogma lingüístico. Portanto, tenho que explicar, ainda que para mim mesmo.
    Não tenho razão de me prender nisso, pois se trata apenas de um holismo ou mesmo coletivismo de há muito adotado, seja considerando o universo, a cidade, a tribo ou outro corpo coletivo como tal. Porém, em qualquer destas situações sempre existirão partes ainda que inexista a liberdade individual. No holismo diria que a “Parte existe em função do todo, mas o todo não existe em função da parte.” Já citei um exemplo disso no texto Tudo é valor e não valor: “Mas o oceano sobrevive sem a baleia, no entanto a baleia não vive sem o oceano, uma vez que ela é apenas contingente. O valor e não valor sobrevive sem o direito, mas o direito não sobrevive sem os valores por ser contingente deles (vide o efeito sombra do direito).”
    http://utquid.blogspot.com.br/2016/02/tudo-e-valor-e-nao-valor.html.
    Outros poderiam até dizer que o egoísmo está na parte e o altruísmo no coletivo. Numa fria análise, diria que a parte jamais seria emancipada do todo. Não poderíamos tratar a baleia senão o oceano para curar as baleias. Não poderíamos curar o indivíduo, senão apenas combater as epidemias, endemias e pandemias. Não poderíamos punir o indivíduo senão em sanear a sociedade. Levado ao extremo, eu passaria a amar apenas minha tribo e não ao próximo, não havendo mais privado ou individual. Dessa maneira eu seria condicionado ao todo e jamais me emanciparia pelo incondicionado, seria um elemento causal de “o todo”. Não nego que a idéia do todo tem muito sentido e é exemplarmente aplicada nas funções que exigem a disciplina e ordem e as partes integram se submetendo ao todo. Vejamos então que o todo ou o totalitarismo tem sucesso na esfera militar em que a disciplina está acima de tudo mesmo na paz, passando a vida inteira numa total mobilização. Mas “o todo” pode considerar o indivíduo como um contingente, enveredando pelo caminho em direção do totalitarismo político, sacrificando até mesmo a ética, uma vez que a ética e moral é um critério ou interesse do Estado, do todo e não do indivíduo. Então numa república a idéia do todo pode ser totalitária enquanto regime político, cuja liberdade se pratica apenas pela submissão ao todo, quando em harmonia com o Estado, ou melhor, de acordo com seu líder. O indivíduo está num nível inferior de valor e o Estado não se ajusta às reivindicações do indivíduo. Mas a totalidade pode estar no grupo ou na tribo a que pertenço e a ética passa a ser ditada pelo grupo ou tribo, daí desaparece a virtude individual e cada um deve adaptar-se ao seu lugar certo, não devendo se afastar. A justiça passa ser universal ou comum do ponto de vista da moralidade totalitária. Então a estabilidade está no todo e não nas partes. E a o racionalismo deixa de ser individual para ser de liderança por um egoísmo coletivo, ou como disse, de consciência coletiva, superando a razão.

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