Quando
falo de um Estado Puro, de Lei e Ordem, claro que faço referência à cidade pensada
por Platão, onde as Leis existentes são apenas as necessárias e outras seriam
inúteis ou ingênuas, pois a educação seria para formar homens cumpridores da
lei e honestos (pág. 118). Por exemplo,
uma lei que determinasse aos mais novos o silêncio, o respeito, o de dar-lhe o
lugar e se levantarem diante dos mais velhos, e os cuidados com os pais. Mas tais
leis, segundo Platão, seriam inúteis, pois desnecessárias diante do cumprimento
natural. Sobre a ciência, Platão não destaca uma das existentes na cidade como
sendo a sábia por si só, mas se refere a “totalidade” das variadas espécies de ciências,
por exemplo, daquelas que se referem ao carpinteiro, à ciência da construção -
arquitetura, e outras quanto mais integram a totalidade da feitura da cidade. Contudo, disse
diante da pergunta de Adimanto: “...Existe
alguma ciência, na cidade que há pouco falamos, em alguns dos seus cidadãos, pela
qual delibere, não sobre qualquer pormenor que nela se encontre, mas sobre a
sua totalidade, sobre a melhor maneira de se comportar consigo mesmo e perante
as outras cidades? Existe, sim senhor. Qual ela? Perguntei eu – E em quem existe? (Platão) – Essa ciência é a
vigilância – respondeu ele -, e encontra-se naqueles chefes que agora mesmo
classificamos de guardião perfeitos.” (Vide A República, Martin Claret,
2004, pág. 122-123.). Assim, a essa ciência (dos guardiões Perfeitos) ele chama
por natureza de “Sabedoria”. Eu aduzo que a “sabedoria” está nas habilidades
sobre várias coisas, e que existe o “conhecimento” na ciência de determinadas coisas.
Todavia, a sabedoria está em saber dispor do conhecimento do melhor modo. O
conhecimento pode ser utilizado para o mal, já a sabedoria em regra não, pois
posso ter conhecimento sem deter sabedoria, então poderei ser um arquiteto e
não ter sabedoria, mas posso ter sabedoria com menos conhecimento do que outro Ser
letrado. Quem tem a sabedoria tem o “todo” e não apenas a parte.
Mas
Platão também falava na especialidade das funções e as classes eram baseadas
nas funções de ordem natural. Qualifica como mal, a invasão de tarefas e competências
entre as classes em si, e se isso ocorresse lavaria a cidade a ser definida como de injustiças
para ele. E a justiça reside aí em se portar do modo conforme as tarefas
competentes sem ingerências, sem alterações ou perturbações. E o homem justo é
aquele enquanto cópia desta cidade perfeita, ou semelhante a ela. (pág. 130).
Nesse
ponto, Platão combate as mudanças, pois as mudanças no mundo sensível segundo
ele não seriam virtuosas, mas imperfeitas, cópias imperfeitas, ilusões. Assim sendo, sua filosofia fala
do mundo das idéias como um lugar fora do tempo, portanto, imóvel e se contrapõe a de Heráclito,
pois este propõe o fluxo, um eterno devir.
Assim,
doravante ao não estarmos diante de uma cidade perfeita (Pura, de Lei e ordem)
que atendia ao “todo”, pois o racionalismo natural e ideal de Platão que seria
o “todo” em que preservava hierarquias, hoje inexiste. Todavia, aqui no meu tempo, temos um
Estado composto por partes autônomas, de grupos e movimentos, indivíduos
emancipados... Estamos diante de um Estado Plural, com várias partes em que as competências,
funções, profissões estão abertas e exercidas por quem desejar exercê-las ou
mudar-se delas, usufruindo o exercício dos ofícios seja daqueles que contém técnicas
e ciências autorizadas, assim como inseridos em atividades meramente de ordem prática.
Então, somos regidos por matérias e não por classes ou pessoas, sendo que o
racionalismo tomou partido (partes) seja de grupos ou indivíduos. Estamos num
mundo, repito, corruptível pelas coisas partidas e em mudanças, pelo fluxo
ainda que na constância dela.
Assim,
cada um de nós devemos ser Guardiões das coisas, bens, serviços e das normatizações
editadas pelo Estado, para que a totalidade seja resgatada pela própria parte “interessada”,
doravante, um cidadão vigilante e guardião.
Milton
Luiz Gazaniga de Oliveira
(Texto sujeito
a correções)
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