Na
véspera de completar um ano de aposentado, entendo a defesa de Aristóteles em
dizer que “o primeiro princípio de toda a ação é o ócio”. Ou seja, para estar no ócio da minha aposentadoria teve uma causa, o trabalho. Continuo a raciocinar: Claro que entre a
potência e ato encontra-se a ação (o trabalho ou negócio) – mas disso já falei e aqui apenas me
interessa escrever sobre o ócio. Então minha causa final é o ócio. Sim, meu
corpo físico tende ao ócio. Obviamente, ignoro a máxima de Platão de que toda a
mudança é degeneração, uma vez que devia me conservar como o original, ou seja, “a forma
ou ideia perfeita”, mas essa ideia platônica não está no mundo físico. No entanto, aqui no mundo físico, ao me desenvolver, alterei a semelhança
com esse arquétipo original. Assim sendo, o bem não pode estar apenas no ponto de
partida, no original, como quer Platão nesse raciocínio, mas na causa final do movimento, “o
que vier a ser”. No caso, uma ação ao ócio, no meu propósito. Sim, mas os
corpos físicos mesmo diante da ação, também procuram como causa final um lugar
natural para o repouso: (K. P. 228) o peso dos corpos grave quando lançados,
tal como a pedra, busca a terra. O ar e o fogo, enquanto corpos leves objetivam
elevar-se, lutando para ocupar a justa posição do descanso/repouso na ordem da
natureza, pois o lugar das pedras é repousar na terra, o do fogo e ar em lutar
para alcançar os corpos celestes na justa ordem da natureza. Os corpos sensíveis
assim também lutam: Veja o Cervo aprisionado ao escapar corre em direção a
floresta numa tendência em voltar ao habitat natural, local do seu justo repouso. Mas
tudo o que posso afirmar não tem sentido se não fizer uma defesa, distinguindo
entre conhecimento e opinião. Mas daí também deverei distinguir entre
conhecimento demonstrativo do intuitivo. Aquele (demonstrativo), enquanto
apreensão das causas que podem ser demonstradas. Este (intuitivo) a apreensão
pelas premissas básicas que descreve a essência de uma coisa pelo termo
definido ante a fórmula definidora enquanto descrição da coisa, ou seja, o
termo definido no exemplo “vaca” deriva de uma formula definidora enquanto
descrição da coisa, sendo um Ser sensível pertencente ao gênero animal, capaz
de gestar outro “Ser - bezerro” da mesma espécie e produzir leite, deambulando
sobre quatro patas, alimentando-se de vegetais e que pode ser adestrado... Assim, o método intuitivo, através de premissas é mais adequado para a ciência. Todavia, como ser que não me contento apenas com o sensível, mesmo agora estando nele, mas refletir sobre tal. Então me satisfaço em provar meu ócio pelo método demonstrativo causal, de que nos
tempos recuados vivia do labor, seja do negócio/trabalho: “...negócios para promover o ócio” (Aristóteles, Política, p. 258),
pois é mais fácil comprovar meu passado (tempo de serviço) como causa da
ociosidade. De outro modo, meu tempo natural de repouso que ora me encontro, desfrutando mais do mundo sensível, não
pode ser utilizado nem revogado por qualquer outro método que não seja apenas a
última causa da extinção da pessoa natural, dando fim ao ócio e ao mesmo
instante ao tempo. Mas então, todo o ócio merecido deve ser usufruído, ante uma
vida boa (eu zen – p.15)!
Milton
Luiz Gazaniga de Oliveira
(Obs.
texto sujeito a modificações)
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